sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Pastoral no Campo da Saúde

Publicamos o discurso que Bento XVI proferiu aos participantes na XXII Conferência Internacional do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, no dia 17 de Novembro.

Senhor Cardeal
Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhores e Senhoras
Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me feliz por me encontrar convosco por ocasião desta Conferência Internacional organizada pelo Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde. Dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação que vai, em primeiro lugar, para o Senhor Cardeal Javier Lozano Barragán, com sentimentos de gratidão pelas gentis expressões que me dirigiu em nome de todos. Com ele saúdo o Secretário e os demais componentes do Pontifício Conselho, as distintas personalidades presentes e quantos participaram neste encontro para reflectir juntos sobre o tema do cuidado pastoral dos doentes idosos. Trata-se de um aspecto hoje central da pastoral da saúde que, devido ao aumento da idade média, diz respeito a uma população cada vez mais numerosa, que vive diversas necessidades, mas ao mesmo tempo com indiscutíveis recursos humanos e espirituais. Se é verdade que a vida humana em cada uma das suas fases é digna do máximo respeito, em certos aspectos ainda o é mais quando está marcada pela velhice e pela doença. A velhice constitui a última etapa da nossa peregrinação terrena, que tem fases distintas, cada uma com as suas luzes e sombras. Perguntamos: ainda tem sentido a existência de um ser humano que se encontra em condições bastante precárias, porque é idoso e doente? Por que motivo, quando o desafio da doença se torna dramático, continuar a defender a vida, não aceitando ao contrário a eutanásia como uma libertação? É possível viver a doença como uma experiência humana que deve ser assumida com paciência e coragem? Com estas perguntas deve medir-se quem está chamado a acompanhar os idosos doentes, especialmente quando parecem não ter mais a possibilidade de cura. A mentalidade eficientista de hoje tende com frequência a marginalizar estes nossos irmãos e irmãs sofredores, como se fossem apenas um "peso" e "um problema" para a sociedade. Quem tem o sentido da dignidade humana sabe que eles devem ser, ao contrário, respeitados e apoiados no momento em que enfrentam sérias dificuldades ligadas ao seu estado. Aliás, é justo que se recorra também, quando for necessário, ao uso de curas paliativas, as quais, mesmo se não podem curar, conseguem contudo aliviar os sofrimentos que derivam da doença. Mas, sempre ao lado das curas clínicas indispensáveis, é necessário mostrar uma capacidade concreta de amar, porque os doentes têm necessidade de compreensão, de conforto e de encorajamento e acompanhamento constantes. Os idosos, em particular, devem ser ajudados a percorrer de modo consciente e humano o último percurso da existência terrana, a fim de se prepararem serenamente para a morte, que nós cristãos sabemo-lo é uma passagem para o abraço do Pai celeste, cheio de ternura e misericórdia.Gostaria de acrescentar que esta necessária solicitude pastoral para com os idosos doentes não pode deixar de dizer respeito às famílias. Em geral, é oportuno fazer tudo quanto for possível para que sejam as próprias famílias quem os acolhe e se ocupam deles com afecto reconhecido, de modo que os idosos doentes possam transcorrer o último período da vida em casa e preparar-se para a morte num clima de calor familiar. Mesmo quando é necessária a internação em estruturas hospitalares, é importante que não falte o vínculo do paciente com os seus familiares e com o próprio ambiente. Nos momentos mais difíceis o doente, amparado pelos cuidados pastorais, seja encorajado a encontrar a força para enfrentar a sua dura prova na oração e com o conforto dos Sacramentos. Seja circundado por irmãos na fé, dispostos a ouvi-lo e a partilhar os seus sentimentos. Na realidade, é este o verdadeiro objectivo do cuidado "pastoral" das pessoas idosas, sobretudo quando estão doentes, e ainda mais se gravemente enfermos. Em várias ocasiões, o meu venerado predecessor João Paulo II, que especialmente durante a doença ofereceu um testemunho exemplar de fé e de coragem, exortou os cientistas e os médicos a comprometerem-se na pesquisa para prevenir e curar as doenças relacionadas com o envelhecimento, sem nunca ceder à tentação de recorrer à prática de abreviação da vida idosa e doente, práticas que resultariam ser de facto formas de eutanásia. Que os cientistas, os pesquisadores, os médicos, os enfermeiros, assim como os políticos, os administradores e os agentes pastorais nunca se esqueçam de que "a tentação da eutanásia" é "um dos sintomas mais alarmantes da "cultura da morte" que avança sobretudo nas sociedades do bem-estar" (Evangelium vitae, 64). A vida do homem é dom de Deus, o qual todos somos chamados a preservar sempre. Este dever compete também aos agentes no campo da saúde, cuja missão específica é tornar-se "ministros da vida" em todas as suas fases, particularmente nas que estão marcadas pela fragilidade relacionada com a enfermidade. É necessário um compromisso geral para que a vida humana seja respeitada não só nos hospitais católicos, mas em qualquer lugar de cura. Para os cristãos é a fé em Cristo que ilumina a doença e a condição da pessoa idosa, como qualquer outro acontecimento e fase da existência. Jesus, ao morrer na cruz, deu ao sofrimento humano um valor e um significado transcendentes. Perante o sofrimento e a doença os crentes são convidados a não perder a tranquilidade, porque nada, nem sequer a morte, nos pode separar do amor de Cristo. N'Ele e com Ele é possível enfrentar e superar qualquer prova física e espiritual e, precisamente no momento de maior debilidade, experimentar os frutos da Redenção. O Senhor ressuscitado manifesta-se, em quantos n'Ele crêem, como o vivente que transforma a existência dando sentido salvífico também à doença e à morte. Queridos irmãos e irmãs, ao invocar sobre cada um de vós e sobre o vosso trabalho quotidiano a materna protecção de Maria, Salus infirmorum, e dos Santos que despenderam a sua existência ao serviço dos doentes, exorto-vos a empenhar-vos sempre por difundir o "evangelho da vida". Com estes sentimentos, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, fazendo-a extensiva de bom grado aos vossos familiares, colaboradores e particularmente às pessoas idosas doentes.
Tradução distribuída pela Santa Sé

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ad Limina 2007: Resultados


Bispos Portugueses trazem directivas de Roma para a Igreja Portuguesa
O ponto alto de uma visita «Ad Limina» é o encontro de todos os bispos com o Papa. Aí, o sucessor de Pedro faz um discurso onde aponta as virtualidades e os caminhos a percorrer pela Igreja. Quando recebeu os bispos portugueses (10 de Novembro), Bento XVI pediu-lhes para que mudassem “o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”. Esta directiva para a Igreja Portuguesa é o caminho para os próximos tempos. D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse à Agência ECCLESIA que Papa “intuiu as nossas carências, ansiedades e insatisfações”.
Antes da visita «Ad Limina», os bispos enviam os relatórios para Roma. Depois de analisar estes documentos Bento XVI verificou também que existe uma “maré crescente de cristãos não praticantes”. No intuito de ajudar a resolver este decréscimo, o Papa alertou os pastores portugueses para que estudassem “a eficácia dos percursos de iniciação actuais”. Os resultados não são animadores porque “a catequese é dada num contexto difícil e os jovens são confrontados permanentemente com outros apelos” – lamentou o Presidente da CEP.
Com o intuito de alterar o panorama sombrio em alguns campos da pastoral, as dioceses irão enviar os relatórios para a Conferência Episcopal Portugal onde “serão estudados pelo Gabinete de Estudos Pastorais” – realçou D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, no final da Assembleia Plenária que estava integrada no programa da visita «Ad Limina» (3 a 12 de Novembro). Depois de feita a análise destes documentos, a aposta passa pela formação “profunda” dos cristãos – disse.
Na atitude “de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, à Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total, todos e cada um de vós e os sacerdotes vossos directos colaboradores na condução do rebanho” – finalizou Bento XVI.
Centenário da Implantação da República e Tratado Reformador
Com o aproximar da celebração do centenário da implantação da República, o Presidente da CEP disse que “devemos estar presentes para que a interpretação dos acontecimentos seja exacta”. Afirmação feita no início dos trabalhos da Assembleia Plenária. E acrescenta: “esta data não pode passar despercebida e necessitamos de, serena e desapaixonadamente, sintonizar com a heroicidade dos pastores e cristãos daquela época para crescermos no amor à Igreja na actualidade”. Apesar das diferentes características temporarais, "não ignoramos a nossa história e com ela construímos o futuro" - proferiu.
Aproxima-se também a assinatura do Tratado Reformador (13 de Dezembro), D. Jorge Ortiga sublinha que “teremos de nos consciencializar, ainda mais, da nossa integração na União Europeia”. O chamado Tratado Reformador “parece ser portador de alguma esperança que nos deve comprometer”. Numa laicidade justa, “toca-nos o dever de mostrar que Cristo une e aproxima culturas”. “Nesta dimensão «positiva» não podemos ignorar outras realidades que serão uma interpelação para a nossa pastoral” – completa na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária.
Espera «ansiosamente» a regulamentação de alguns pontos da Concordata
A questão da Concordata entre Portugal e a Santa Sé também foi objecto de diálogo com Bento XVI e os vários dicastérios. “Não viemos fazer queixa sobre este assunto”, mas assegurar “que estamos disponíveis para continuar a colocar em prática o que está assinado no documento” – realçou o Presidente da CEP. A Igreja Portuguesa espera “ansiosamente” pela regulamentação de alguns pontos da Concordata, mas compreende que o “Governo esteja, actualmente, muito empenhado na Presidência da União Europeia” – aponta D. Jorge Ortiga. No entanto lamenta: “pequenos grupos, imbuídos dum espírito laicista, têm pretendido suscitar possíveis conflitos”. Apesar destas contingências, D. Jorge Ortiga sublinha que a Igreja Portuguesa pretende “dialogar para que a igualdade de direitos não seja capaz de abafar a proporcionalidade”.
No discurso proferido na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé, D. Jorge Ortiga explicou que “não nos sentimos em confronto com ninguém nem procuramos gerar conflitos”. Num papel de geradores “de consensos”, os bispos presentes em Roma sublinham que são apologistas do diálogo “sem nos intrometermos em terrenos alheios nem negarmos direitos a ninguém”. Em relação à Liberdade Religiosa, o Presidente da CEP disse que esta “interessa-nos pela mesma liberdade que vale para todos como consequência dum reconhecimento da dimensão transcendental”.
Encíclica Social
Ao longos dos dias, os bispos portugueses visitaram alguns Dicastérios da Cúria Romana. Uma oportunidade para sentirem o pulsar da Igreja e retirarem algumas dúvidas. Quando visitaram Conselho Pontifício Justiça e Paz foi-lhes anunciado que Bento XVI estava a prepara uma Encíclica Social nas comemorações dos 40 anos da encíclica «Populorum Progressio». Contacta pela Agência ECCLESIA, Manuela Silva, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, acha que o documento “dará novo alento aos cristãos sobre a Doutrina Social da Igreja” e ajudará a “fazer da globalização um processo mais justo e equitativo”.
Nesse mesmo Conselho, os bispos portugueses ouviram que apenas três países a nível mundial cumprem o acordo de cooperação internacional e que nesta área os “montantes têm diminuído muito”, visto que os “0,7% dos seus produtos” para este efeito não são cumpridos. “As dificuldades ao nível da Segurança Social fazem com que desloquem para aí essas verbas” – disse D. Carlos Azevedo.
Os bispos eméritos são “muito úteis” mas as orientações da Congregação dos Bispos “são para manter e conservar” – declarou à Agência ECCLESIA D. Jorge Ortiga sobre a questão do estatuto do Bispo emérito colocada naquela Congregação romana. D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança frisou que os prelado eméritos através da “sua experiência poderiam ser mais produtivos”. O presidente da CEP corrobora também desta opinião. “As posições exigem muita reflexão e eles são muito importantes neste ponto”. Só que as “decisões implicam responsabilidades concretas e eles não têm dioceses. O voto implica assumir uma orientação” – sublinha D. Jorge Ortiga.
Na visita dos bispos à Congregação da Doutrina da Fé e ao Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, D. Albino Mamede Cleto, bispo de Coimbra, realçou que o Cardeal Walter Kasper “deu-nos uma grande lição de Teologia sobre o Ecumenismo e Diálogo inter-religioso”. E avança: “mostrou-nos o panorama mundial em relação a essas questões”. O Bispo das Forças Armadas e de Segurança completa: “Perante o cenário reproduzido, Portugal não tem problemas desta ordem”.
A purificação da religiosidade popular e as missas em Latim
Valorizar e purificar a religiosidade popular foi um dos apelos que a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos fez aos bispos portugueses. O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, contou à Agência ECCLESIA que devido às peregrinações ao Santuário de Fátima e às outras festas que se realizam de Norte a Sul, o prefeito da Congregação “pediu-nos para que não destruíssemos a religiosidade Popular”.
Em relação às missas em Latim, “informaram-nos que ainda não existem dados concretos a nível mundial sobre este assunto” – frisou o bispo de Viseu. A 14 de Setembro entrou em vigor o Motu Proprio de Bento XVI – Summorum Pontificum – que aprova a utilização universal do Missal promulgado, em 1962, pelo Beato João XXIII com o Rito de S. Pio V, utilizado na Igreja durante séculos. Os bispos portugueses disseram na Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos que “em Portugal não víamos grande apetência por esse rito” – sublinha D. Ilídio Leandro.
No diálogo, os pastores portugueses transmitiram ao Cardeal Francis Arinze que a Comissão Episcopal de Liturgia está a fazer “uma nova tradução do Missal Romano” e que “estará pronta brevemente” – afirmou o prelado viseense. Por sua vez, o Prefeito da Congregação pediu para que em Portugal “existissem Comissões Diocesanas de Liturgia e Arte Sacra em todas as dioceses” – disse D. Carlos Azevedo.
Novo Santo Português
Na visita que fez à Congregação para a Causa dos Santos, o bispo de Coimbra realçou à Agência ECCLESIA que “não se falou sobre o processo da Irmã Lúcia” mas o Prefeito da Congregação, Cardeal José Saraiva Martins, deu “indícios que o processo do Beato Nuno Santa Maria é aquele que está mais avançado”. E avançou: “Disse que poderíamos ter brevemente algumas surpresas”.
O Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Carlos Azevedo disse que o cardeal português que preside à Congregação para a Causa dos Santos afirmou que “estava em bom caminho o processo de canonização do beato Nuno”. “Não avançou com datas” mas “já não aparece na lista dada dos processos que estão em curso”. Perante a estupefacção dos bispos portugueses, o Cardeal Saraiva Martins afirmou que “ele já estava noutro nível”. D. José Saraiva Martins pediu também aos bispos portugueses que “ajudássemos na promoção da devoção de alguns beatos e de personalidades com o processo em curso” – referiu o arcebispo de Braga.
Luís Filipe Santos 10/11/2007 - www.agencia.ecclesia.pt

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Bispos Portugueses destacam prioridades pastorais para próximo quinquênio

Em Assembleia Plenária realizada em Roma, no contexto da visita Ad limina,
Os bispos portugueses que estão em Roma estes dias para a visita ad limina apostolorum ao Papa e à Cúria Romana realizaram uma Assembleia Plenária na qual destacaram algumas prioridades pastorais do trabalho apostólico em Portugal para os próximos cinco anos.A reunião do episcopado aconteceu essa terça-feira, no Pontifício Colégio Português, e contou com a presença de 34 prelados.Segundo se informa no comunicado final da Assembleia, os bispos decidiram enviar ao Secretariado da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) todos os relatórios quinquenais elaborados para a visita ad limina. Com esse material, o Gabinete de Estudos Pastorais poderá traçar linhas de orientação para o futuro próximo.«Os bispos puseram em comum perspectivas essenciais para uma acção conjunta de todas as dioceses, bem preparada e programada. Nas intervenções foram lançadas as prioridades que se vislumbram no horizonte e interligam a vida interna da Igreja com a sociedade», destaca o comunicado final, difundido por Agência Ecclesia.Entre as prioridades, destacam-se: investimento na formação de cristãos, com valorização do estilo catecumenal e das dimensões comunitária e espiritual; inovação na pastoral juvenil; clarificação da missão específica dos padres; promoção de iniciativas que permitam conhecer o Deus cristão, pensar a Igreja na sua liberdade profética e prepará-la para ser serva e pobre.Ao dar início à reunião, o presidente da CEP, Dom Jorge Ortiga, referiu-se a três aspectos que contextualizavam a Assembleia.«A vantagem de delinear projectos de nível nacional, a recente aprovação do Tratado reformador da União Europeia, no qual a dimensão religiosa está presente e constitui interpelação para a pastoral, e ainda a preparação das comemorações da implantação da República, em 2010, a requerer uma visão serena e objectiva desse momento revelador de uma interpelante coragem pastoral dos bispos.»Os bispos ainda celebraram a Eucaristia pelas vítimas do acidente rodoviário ocorrido em Castelo Branco essa segunda-feira, em que morreram 15 pessoas.
ROMA, quinta-feira, 8 de novembro de 2007 (ZENIT.org).