segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ad Limina 2007: Resultados


Bispos Portugueses trazem directivas de Roma para a Igreja Portuguesa
O ponto alto de uma visita «Ad Limina» é o encontro de todos os bispos com o Papa. Aí, o sucessor de Pedro faz um discurso onde aponta as virtualidades e os caminhos a percorrer pela Igreja. Quando recebeu os bispos portugueses (10 de Novembro), Bento XVI pediu-lhes para que mudassem “o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II”. Esta directiva para a Igreja Portuguesa é o caminho para os próximos tempos. D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse à Agência ECCLESIA que Papa “intuiu as nossas carências, ansiedades e insatisfações”.
Antes da visita «Ad Limina», os bispos enviam os relatórios para Roma. Depois de analisar estes documentos Bento XVI verificou também que existe uma “maré crescente de cristãos não praticantes”. No intuito de ajudar a resolver este decréscimo, o Papa alertou os pastores portugueses para que estudassem “a eficácia dos percursos de iniciação actuais”. Os resultados não são animadores porque “a catequese é dada num contexto difícil e os jovens são confrontados permanentemente com outros apelos” – lamentou o Presidente da CEP.
Com o intuito de alterar o panorama sombrio em alguns campos da pastoral, as dioceses irão enviar os relatórios para a Conferência Episcopal Portugal onde “serão estudados pelo Gabinete de Estudos Pastorais” – realçou D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, no final da Assembleia Plenária que estava integrada no programa da visita «Ad Limina» (3 a 12 de Novembro). Depois de feita a análise destes documentos, a aposta passa pela formação “profunda” dos cristãos – disse.
Na atitude “de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, à Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total, todos e cada um de vós e os sacerdotes vossos directos colaboradores na condução do rebanho” – finalizou Bento XVI.
Centenário da Implantação da República e Tratado Reformador
Com o aproximar da celebração do centenário da implantação da República, o Presidente da CEP disse que “devemos estar presentes para que a interpretação dos acontecimentos seja exacta”. Afirmação feita no início dos trabalhos da Assembleia Plenária. E acrescenta: “esta data não pode passar despercebida e necessitamos de, serena e desapaixonadamente, sintonizar com a heroicidade dos pastores e cristãos daquela época para crescermos no amor à Igreja na actualidade”. Apesar das diferentes características temporarais, "não ignoramos a nossa história e com ela construímos o futuro" - proferiu.
Aproxima-se também a assinatura do Tratado Reformador (13 de Dezembro), D. Jorge Ortiga sublinha que “teremos de nos consciencializar, ainda mais, da nossa integração na União Europeia”. O chamado Tratado Reformador “parece ser portador de alguma esperança que nos deve comprometer”. Numa laicidade justa, “toca-nos o dever de mostrar que Cristo une e aproxima culturas”. “Nesta dimensão «positiva» não podemos ignorar outras realidades que serão uma interpelação para a nossa pastoral” – completa na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária.
Espera «ansiosamente» a regulamentação de alguns pontos da Concordata
A questão da Concordata entre Portugal e a Santa Sé também foi objecto de diálogo com Bento XVI e os vários dicastérios. “Não viemos fazer queixa sobre este assunto”, mas assegurar “que estamos disponíveis para continuar a colocar em prática o que está assinado no documento” – realçou o Presidente da CEP. A Igreja Portuguesa espera “ansiosamente” pela regulamentação de alguns pontos da Concordata, mas compreende que o “Governo esteja, actualmente, muito empenhado na Presidência da União Europeia” – aponta D. Jorge Ortiga. No entanto lamenta: “pequenos grupos, imbuídos dum espírito laicista, têm pretendido suscitar possíveis conflitos”. Apesar destas contingências, D. Jorge Ortiga sublinha que a Igreja Portuguesa pretende “dialogar para que a igualdade de direitos não seja capaz de abafar a proporcionalidade”.
No discurso proferido na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé, D. Jorge Ortiga explicou que “não nos sentimos em confronto com ninguém nem procuramos gerar conflitos”. Num papel de geradores “de consensos”, os bispos presentes em Roma sublinham que são apologistas do diálogo “sem nos intrometermos em terrenos alheios nem negarmos direitos a ninguém”. Em relação à Liberdade Religiosa, o Presidente da CEP disse que esta “interessa-nos pela mesma liberdade que vale para todos como consequência dum reconhecimento da dimensão transcendental”.
Encíclica Social
Ao longos dos dias, os bispos portugueses visitaram alguns Dicastérios da Cúria Romana. Uma oportunidade para sentirem o pulsar da Igreja e retirarem algumas dúvidas. Quando visitaram Conselho Pontifício Justiça e Paz foi-lhes anunciado que Bento XVI estava a prepara uma Encíclica Social nas comemorações dos 40 anos da encíclica «Populorum Progressio». Contacta pela Agência ECCLESIA, Manuela Silva, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, acha que o documento “dará novo alento aos cristãos sobre a Doutrina Social da Igreja” e ajudará a “fazer da globalização um processo mais justo e equitativo”.
Nesse mesmo Conselho, os bispos portugueses ouviram que apenas três países a nível mundial cumprem o acordo de cooperação internacional e que nesta área os “montantes têm diminuído muito”, visto que os “0,7% dos seus produtos” para este efeito não são cumpridos. “As dificuldades ao nível da Segurança Social fazem com que desloquem para aí essas verbas” – disse D. Carlos Azevedo.
Os bispos eméritos são “muito úteis” mas as orientações da Congregação dos Bispos “são para manter e conservar” – declarou à Agência ECCLESIA D. Jorge Ortiga sobre a questão do estatuto do Bispo emérito colocada naquela Congregação romana. D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança frisou que os prelado eméritos através da “sua experiência poderiam ser mais produtivos”. O presidente da CEP corrobora também desta opinião. “As posições exigem muita reflexão e eles são muito importantes neste ponto”. Só que as “decisões implicam responsabilidades concretas e eles não têm dioceses. O voto implica assumir uma orientação” – sublinha D. Jorge Ortiga.
Na visita dos bispos à Congregação da Doutrina da Fé e ao Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, D. Albino Mamede Cleto, bispo de Coimbra, realçou que o Cardeal Walter Kasper “deu-nos uma grande lição de Teologia sobre o Ecumenismo e Diálogo inter-religioso”. E avança: “mostrou-nos o panorama mundial em relação a essas questões”. O Bispo das Forças Armadas e de Segurança completa: “Perante o cenário reproduzido, Portugal não tem problemas desta ordem”.
A purificação da religiosidade popular e as missas em Latim
Valorizar e purificar a religiosidade popular foi um dos apelos que a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos fez aos bispos portugueses. O bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro, contou à Agência ECCLESIA que devido às peregrinações ao Santuário de Fátima e às outras festas que se realizam de Norte a Sul, o prefeito da Congregação “pediu-nos para que não destruíssemos a religiosidade Popular”.
Em relação às missas em Latim, “informaram-nos que ainda não existem dados concretos a nível mundial sobre este assunto” – frisou o bispo de Viseu. A 14 de Setembro entrou em vigor o Motu Proprio de Bento XVI – Summorum Pontificum – que aprova a utilização universal do Missal promulgado, em 1962, pelo Beato João XXIII com o Rito de S. Pio V, utilizado na Igreja durante séculos. Os bispos portugueses disseram na Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos que “em Portugal não víamos grande apetência por esse rito” – sublinha D. Ilídio Leandro.
No diálogo, os pastores portugueses transmitiram ao Cardeal Francis Arinze que a Comissão Episcopal de Liturgia está a fazer “uma nova tradução do Missal Romano” e que “estará pronta brevemente” – afirmou o prelado viseense. Por sua vez, o Prefeito da Congregação pediu para que em Portugal “existissem Comissões Diocesanas de Liturgia e Arte Sacra em todas as dioceses” – disse D. Carlos Azevedo.
Novo Santo Português
Na visita que fez à Congregação para a Causa dos Santos, o bispo de Coimbra realçou à Agência ECCLESIA que “não se falou sobre o processo da Irmã Lúcia” mas o Prefeito da Congregação, Cardeal José Saraiva Martins, deu “indícios que o processo do Beato Nuno Santa Maria é aquele que está mais avançado”. E avançou: “Disse que poderíamos ter brevemente algumas surpresas”.
O Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Carlos Azevedo disse que o cardeal português que preside à Congregação para a Causa dos Santos afirmou que “estava em bom caminho o processo de canonização do beato Nuno”. “Não avançou com datas” mas “já não aparece na lista dada dos processos que estão em curso”. Perante a estupefacção dos bispos portugueses, o Cardeal Saraiva Martins afirmou que “ele já estava noutro nível”. D. José Saraiva Martins pediu também aos bispos portugueses que “ajudássemos na promoção da devoção de alguns beatos e de personalidades com o processo em curso” – referiu o arcebispo de Braga.
Luís Filipe Santos 10/11/2007 - www.agencia.ecclesia.pt