quarta-feira, 25 de junho de 2008

D. Manuel Quintas lança apelo à adesão dos Cristãos à Exposição «Bíblia em Festa»

No momento em muitas paróquias e Conselhos Pastorais debatem a forma como levar a Palavra de Deus «á rua», ao encontro de todos, aqui fica um exemplo como a Diocese do Algarve num periódo em que muita gente em gozo de férias permanece por aquelas vilas e cidades, existe também um lugar para a Palavra de Deus.


O Bispo do Algarve lançou no Sábado passado um apelo à visita à exposição multimédia “Bíblia em Festa” que irá ser inaugurada na próxima Sexta-feira na zona ribeirinha de Portimão.
D. Manuel Quintas falava naquela cidade no âmbito da celebração eucarística de reabertura da igreja do Colégio da Companhia de Jesus.
“É uma exposição que eu gostaria que ninguém deixasse de visitar”, afirmou, lembrando que “em cada dia haverá acções dirigidas a todos, desde as crianças aos mais idosos”.
O Bispo diocesano considerou tratar-se de uma mostra “muito atractiva e apelativa, em relação à importância da Palavra de Deus, da Bíblia” na vida dos cristãos.
“É importante visitar e envolver-se nesse acontecimento”, reforçou.
A exposição, promovida pela diocese o Algarve e organizada pela Sociedade Bíblica, estará aberta ao público das 15 às 24 horas até ao dia 13 de Julho e contará com um programa de animação bíblica e cultural diário com cerca de 50 pessoas, entre conferencistas, oradores, membros de painéis, ou grupos de música.
A tenda onde será realizada, com cerca de 200 m2, será dividida por 5 módulos com sonoridades distintas: “A Bíblia – Século XXI”; “Uma vasta biblioteca”; “Milénios de cultura e civilização”; “A Palavra na vida” e “Considere… o Amor!”.
Terá ainda um auditório anexo onde todos os dias decorrerá uma actividade.


Diocese do Algarve 24/06/2008

segunda-feira, 23 de junho de 2008

D. Joaquim Gonçalves visitou a Senhora da Graça


E o senhor D. Joaquim Gonçalves não demorou a satisfazer a vontade da Mãe Santíssima e, acompanhado pelo seu coadjutor, D. Amândio Tomás, pegou em si e com aquela energia que o amor filial gera no coração dos filhos agradecidos, no dia 5, subiu até ao mais famoso santuário da sua Diocese, para, de “coração novo”, visitar Nossa Senhora da Graça e agradecer-Lhe a maternal protecção com que foi bafejado no período mais agudo da doença que o afectou. Deve ter sido uma vista emocional entre um filho agradecido e uma Mãe boa e terna que gosta de todos os filhos, mas tem pelos que são agradecidos especial carinho. Também Vilar de Ferreiros ficou satisfeito e sentiu-se honrado por ver dois prelados muito interessados pelo progresso e desenvolvimento que, sob a administração da paróquia de São Pedro, nestas últimas décadas, no Monte Farinha, se tem vindo a verificar.Parabéns D. Joaquim e muitos mais anos de vida, com esse “novo coração” e carinho por Nossa Senhora da Graça.


Costa Pereira

Ano Paulino, uma proposta Pastoral.


Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa


Introdução


1. O Papa Bento XVI proclamou um “Ano Paulino”, para celebrar os 2000 anos do nascimento de São Paulo, com início na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, a 29 de Junho de 2008, e a terminar um ano depois. Este Ano Paulino coincide, no tempo, com uma outra proposta feita pelo Santo Padre a toda a Igreja: a convocação de um Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Esta simultaneidade sugere-nos a convergência dos dois temas nas propostas pastorais. Paulo, grande Apóstolo da Palavra, pode ser o nosso guia para descobrirmos, mais profundamente, o lugar da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Basta pensar que ele é o autor sagrado mais frequentemente lido na Liturgia.
A Palavra de Deus é o Verbo eterno de Deus, a mensagem do coração de Deus que Ele quer comunicar aos seres humanos. A Palavra revelada é apenas o meio sacramental, expressão do mistério da encarnação, que nos pode levar a escutar a Palavra viva de Deus. Paulo tem uma consciência muito profunda dessa origem divina da Palavra. As suas principais cartas antecedem cronologicamente os outros escritos do Novo Testamento. Paulo confessa que o Evangelho que anuncia o recebeu directamente de Jesus Cristo, tendo sido confirmado pelos outros apóstolos. Aos Gálatas ele escreve: “Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho que por mim foi anunciado, não o conheci à maneira humana; pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo” (Gal 1,11-12). Com Paulo, a Igreja pode fazer esta descoberta da Palavra viva, a que Deus quer dirigir ao Seu povo, Palavra que brota do coração de Deus.
Paulo pode guiar-nos em todos os caminhos de escuta da Palavra: na celebração da Páscoa; na evangelização, como primeiro anúncio de Jesus Cristo; no aprofundamento da fé, em processo catequético; na fidelidade a Deus, vivendo segundo as exigências da Palavra; no fortalecimento da esperança, pois toda a Palavra de Deus nos abre para o horizonte da eternidade.



Paulo e a nova fronteira da evangelização


2. Paulo protagonizou, na sua experiência de Apóstolo, o alargamento do horizonte dos destinatários do Evangelho, problema actual na relação da Igreja com a sociedade. A Igreja primitiva viveu dramaticamente este problema: o Evangelho era destinado aos judeus e os novos discípulos de Jesus deviam sujeitar-se à circuncisão e obedecer às normas legais do povo judaico, ou era também para os pagãos que, uma vez convertidos a Cristo, ficavam a pertencer ao Povo de Deus, obedecendo apenas às exigências do Espírito e não a leis especificamente judaicas? Paulo, nascido judeu, formado na escola do Mestre Gamaliel, que nunca renegou o seu amor e a sua pertença ao Povo de Israel, ao verdadeiro Israel de Deus (cf. Rom 9,1ss), é o grande protagonista deste alargamento do horizonte da evangelização. Identifica aí a sua graça própria: “A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo” (Ef 3,8), de tal modo que aqueles que se convertem a Cristo são “concidadãos dos santos, membros da casa de Deus” (2,19).
Este alargar do horizonte do anúncio do Evangelho é o desafio feito à Igreja por João Paulo II, lançando-a para uma nova evangelização. É que a Igreja também hoje corre o risco de limitar o anúncio de Jesus Cristo àqueles que continuam no seu redil, compreendem a sua linguagem e conhecem as suas leis, e tem dificuldade em anunciar Jesus Cristo a uma sociedade cada vez mais secularizada.
As sociedades contemporâneas, apesar de muito diferentes das sociedades do Império Romano do século I, têm traços comuns: estão profundamente marcadas pelo hedonismo e pelo materialismo, reduzindo o problema de Deus ao arbítrio e à decisão humana, fiel a ritos, mas incapaz de reconhecer o Deus vivo e transcendente. Por outro lado, em ambas se notam sintomas de insatisfação, que pode transformar-se em abertura à surpresa vivificante do anúncio de Jesus Cristo. Paulo teve desilusões e sucessos e pode inspirar a Igreja actual a discernir, nos anseios dos homens e mulheres do nosso tempo, aberturas à Palavra de Deus. Ela é chamada a ler, nas buscas e inquietações humanas, os “sinais dos tempos”, indicativos da necessidade e do desejo da salvação (cf. G.S. nn. 4 e 11).


O evangelizador possuído por Jesus Cristo


3. Paulo revela-nos, no testemunho da sua vida, o dinamismo sobrenatural da evangelização: a força que brota do encontro com Cristo ressuscitado. Tudo começou na sua conversão, com a revelação pessoal de Jesus Cristo, afirmando uma verdade perene: só quem se converte a Jesus Cristo, pode ser evangelizador.
Para Paulo tudo começou na estrada de Damasco, onde Cristo ressuscitado se lhe manifesta e lhe faz o chamamento de pôr todo aquele zelo com que perseguia os cristãos, com os quais Jesus Se identifica, ao serviço do Evangelho, a boa-nova da salvação. “Quem és Tu Senhor?” “Eu Sou Jesus a Quem tu persegues” (cf. Act. 26,12-16). Paulo nunca mais duvidará que o Evangelho que anuncia o recebeu naquele momento. Ele próprio o confessa aos cristãos de Corinto: “transmiti-vos em primeiro lugar o que eu próprio havia recebido: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras e foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras e apareceu a Cefas, depois aos doze (…). Depois disso (…) apareceu-me também a mim” (1Cor. 15,3-8). Paulo considera esta a sua graça própria, a escolha misericordiosa de Deus: “pela graça de Deus sou o que sou; e a graça que me foi dada não foi estéril” (1Cor. 15,10).
Toda a vida de Paulo se situa depois deste encontro, vive dele, em plena alegria (cf. Fil. 1,21; Gal. 2,20), o mais é lixo (cf. Fil. 3,8); “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1Cor. 9,16) – e dá testemunho dos efeitos desse encontro: “O Reino de Deus (…) é justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Rom. 14,17); por isso, Paulo esquece o que fica para trás e atira-se para as coisas que estão à sua frente (cf. Fil. 3,13). Não admira que inicie as suas Cartas com a saudação nova da graça e da paz de Deus, Nosso Pai, e do Senhor Nosso, Jesus Cristo, e as termine sempre com a graça do Senhor Nosso, Jesus Cristo… E o autor do Livro dos Actos dos Apóstolos fecha o Livro deixando Paulo em Roma “a anunciar o Reino de Deus e a ensinar o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo” (Act. 28,31).
Esta fidelidade de Paulo a Jesus Cristo sugerir-nos-á caminhos de conversão para todos os evangelizadores, também eles chamados a deixarem-se possuir por Jesus Cristo para poderem anunciar o Seu Evangelho.
4. O alargamento do anúncio do Evangelho aos descrentes e aos que abandonaram a vida cristã, supõe evangelizadores com as características exigidas pela nova evangelização. No dizer de João Paulo II, esses evangelizadores têm de ser possuídos de um novo ardor, porque o seu testemunho é um primeiro anúncio de natureza querigmática. As Igrejas de Portugal necessitam de repensar estes dois elementos da nova evangelização. É preciso identificar, preparar e enviar esses evangelizadores. Na pedagogia e nas atitudes a primeira evangelização é diferente da catequese. E muitas crianças, jovens e adultos que inserimos nas nossas catequeses organizadas, precisavam desse anúncio querigmático. A generalidade da juventude, as famílias, os leigos chamados a evangelizar o meio em que estão inseridos, urgem o reforço de uma pastoral querigmática.
O Ano Paulino pode ajudar-nos a sistematizar essa pastoral específica, porque Paulo foi o maior evangelizador de todos os tempos. Ele continua a ser exemplo inspirador do ardor da evangelização e da natureza específica do anúncio querigmático.


Um novo ardor!


Evangelizar não é uma estratégia e não se reduz a um programa: é uma paixão de amor por Jesus Cristo e pelos nossos irmãos e irmãs. Com Paulo, o ardor da evangelização brota da sua paixão por Jesus Cristo. O encontro com Cristo na estrada de Damasco mudou a sua vida. Aos Filipenses confessa ter sido completamente apanhado por Jesus Cristo “para o conhecer na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos” (Fil 3,10-11). A sua vida reduz-se à identificação com Cristo: “Para mim viver é Cristo” (Fil 1,21; cf. Gal 2,20); tudo o mais é lixo (cf. Fil 3,8). Esta identificação é com a Páscoa de Jesus, na Sua morte e ressurreição: “Nós pregamos um Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios”, mas para os que são chamados [...], Ele é poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1,23-24).
Esta paixão por Jesus Cristo e a certeza de que na Sua Cruz se decidiu o novo destino humano, geram em Paulo a urgência da evangelização, em que ele se sente como cooperador de Deus (cf. 1Co 3,9). “Ai de mim, se eu não evangelizar!” (1Co 9,16). A evangelização é o seu futuro, o sentido do tempo que lhe resta para viver, o que o leva a relativizar o seu passado (cf. Fil 3,13).


O anúncio querigmático


Paulo distingue a pregação querigmática, em que faz o anúncio de Jesus Cristo, da catequese às Igrejas para o aprofundamento da identificação com Cristo.
O primeiro anúncio é de Jesus Cristo salvador, morto e ressuscitado, mas com a particularidade de se adaptar aos destinatários. Aos judeus ele anuncia Jesus como o Messias esperado e a plena realização de todas as Escrituras (cf. Act 9,20.22; 13,16ss). Aos gentios anuncia Jesus ressuscitado com desafio à conversão “dos ídolos a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1Tes 1,9). Este anúncio aos gentios é o grande desafio das suas viagens apostólicas, embora nunca descurando o anúncio aos judeus. Ousou mesmo, sem recusar o diálogo, enfrentar o mundo da cultura helenista, marcada por várias sabedorias e pelo sincretismo filosófico e religioso. Foi talvez a sua pregação no Areópago de Atenas que o levou a convencer-se mais de que só com as sabedorias humanas não se chega à sabedoria da Cruz (cf. Act 17,16ss).
Neste Ano Paulino, temos de pressentir por que caminhos nos conduziria Paulo, se partilhasse hoje, connosco, a missão evangelizadora da Igreja.


A exigência do percurso catequético


5. Paulo tem a consciência viva de que o anúncio de Jesus Cristo, que leva à fé, introduz no caminho da salvação ou da justificação, conceito que valoriza pois sente que a salvação humana repõe o justo relacionamento com Deus, em Cristo, que é justiça de Deus (cf. 1Co 1,30; 2Co 5,21). Trata-se da coerência da fé, ou da “obediência da fé”, como gosta de lhe chamar (Rom 1,5). Compromete a vida toda, durante toda a vida, exprime-se na “obra da fé” (1 Tes 1,3), toca o seu auge na vivência da caridade (cf. Gal 5,6), projecta-nos, na esperança, para a plenitude da vida eterna (cf Rom 5,1-11; 8,18-39). Não é só compreensão, é, sobretudo, entrega e coerência de vida, é identificação com Cristo, na Sua morte e ressurreição.
A fé é o grande acontecimento da vida do cristão. É que, no Evangelho, “é revelada a justiça de Deus, que vem da fé e conduz à fé, conforme está escrito: «o justo viverá da fé» (Rom 1,17). A fé reaviva-se com a escuta permanente da Palavra de Deus, o Evangelho de Jesus Cristo. Ela é “Palavra de vida” (Fil 2,16), o crescimento da Igreja identifica-se com a vitalidade da Palavra (cf. Act 19,20).
O caminho catequético leva, sobretudo, à identificação com Cristo. O baptismo, sacramento pelo qual os que acreditaram em Jesus Cristo, através da Palavra, entram na comunidade dos discípulos, para caminharem em Igreja, consiste em morrer com Cristo, para com Ele ressuscitar (cf. Rom 6,3-11). Este morrer com Cristo, o sepultar o homem velho, mostra bem a convicção de Paulo de que o cristão é chamado a uma vida nova, em que se manifesta a epifania da graça, na força do Espírito (cf. Rom 8,5-17; Col 3,5-17).
Na sua catequese, Paulo não separa a vida pessoal do cristão da vida da Igreja: o cristão caminha em Igreja e não é apenas o indivíduo que se identifica com Cristo, mas toda a Igreja se identifica com Cristo. Ela é o corpo de Cristo (cf. Rom 12,15; 1Co 12, 12-30; Ef 1,22s; 4,4-6; Col 2,19), é a sua esposa (cf. Ef 5,25-32), retomando a velha imagem do amor esponsal de Deus pelo Seu Povo.
Esta descoberta da vida nova em Cristo é uma autêntica iniciação à vida, é a iniciação cristã, chamar-se-lhe-á mais tarde. É uma descoberta, de surpresa em surpresa, até à alegria do estar para sempre com o Senhor. É uma caminhada catecumenal, porque aprofunda continuamente a alegria do seu início: a fé em Jesus Cristo e o mergulhar n’Ele, no Baptismo.
O Ano Paulino oferece-nos estímulo para aperfeiçoar a nossa catequese e conceber a acção pastoral como um meio de aprofundar um processo contínuo de iniciação cristã.


Prioridade da experiência comunitária da fé


6. Para Paulo o Evangelho é uma força de comunhão. Jesus Cristo, ao atrair cada um a si, pela fé, deseja a Igreja onde se vive a caridade, a comunhão com Deus, por Jesus Cristo e com os irmãos. Paulo concebe a sua missão como um edificar contínuo da Igreja que Jesus Cristo, deseja e ama. O seu principal instrumento catequético são as suas cartas, todas elas directa ou indirectamente, dirigidas às Igrejas. Estas são o seu interlocutor. Catequizando as Igrejas, faz uma catequese sobre a Igreja.
Paulo acentua, antes de mais, a identificação da Igreja com o próprio Cristo. A união a Cristo, realizada no baptismo, é tão profunda, que a Igreja é a nova dimensão do Corpo de Cristo, a nova fase do mistério da encarnação (cf. 1Co 12,27; Rom 12,5). Deste novo corpo, Cristo é a cabeça, porque a Igreja vive e alimenta-se da plenitude de Cristo ressuscitado (cf. Ef 1,22-23; Col 1,18; 3,19). Paulo encarna, na sua solicitude pelas comunidades, o amor e a ternura de Jesus Cristo pela Igreja (cf. 2 Co 11,2-3, 29; 1 Tes 2,7-12).
O facto de as Igrejas serem a expressão da Igreja que Jesus Cristo quer e ama, faz da comunhão na fé e na caridade a grande exigência da unidade. Esta unidade não é a uniformidade humana, mas a participação da unidade de Cristo com o Pai, no Espírito. Paulo exprime quase sempre esta dimensão transcendente da comunhão e da unidade, nas saudações com que inicia as suas cartas às Igrejas (Cf Rom 1,7; 1 Co 1,3).
A unidade das Igrejas é preocupação contínua de Paulo e causa de muito sofrimento. Antes de mais a preocupação de garantir que as Igrejas que nasceram da sua missão junto dos gentios, estejam em comunhão com as Igrejas da Palestina, constituídas, sobretudo, por cristãos vindos do judaísmo. Leva as Igrejas da gentilidade a partilharem os seus bens com as Igrejas mais pobres da Palestina (cf. Rom 15,25-27; 1Co 16,1-4; 2 Co 8-9; Gal 2,10). Mas para ele é sobretudo importante que a fé seja a mesma. Essa preocupação leva-o a Jerusalém, para se encontrar com os outros Apóstolos, e a reconhecer a primazia de Pedro (cf. Gal 1,18s; 2,1-10).
A efervescência carismática em algumas Igrejas daquele tempo é um problema real para esta construção da unidade. Os princípios que o orientam são de uma actualidade flagrante: não há dons do Espírito estritamente para benefício individual, mas são dons para toda a Igreja e só esta é o juiz do seu discernimento (cf. 1 Co 12-14; Rom 12,3-8; Ef 4,1-16).
O Ano Paulino oferece-nos ocasião de uma reflexão pastoral sobre a verdade da Igreja e a maneira de construir a unidade da comunhão, na imensa variedade de carismas que voltaram a enriquecer a Igreja do nosso tempo. As estruturas da CEP são chamadas a estar mais atentas a esta realidade que, se constitui uma riqueza da Igreja, é também o seu principal desafio na construção da unidade.


Corresponsabilidade na missão


7. A paixão por Jesus Cristo, Paulo transmitiu-a aos outros cristãos, infundindo neles o mesmo ardor pela missão. Esta torna-se, assim, expressão da caridade, na comunhão da Igreja. Paulo percebeu que toda a Igreja é chamada a ser, com os Apóstolos, corresponsável na missão. Agregou ao seu ministério cooperadores zelosos: presbíteros, que “trabalham na palavra e na instrução” (1Tim. 5,17), cristãos, mulheres e homens, empenhados no “trabalho do amor” (1Ts. 1,3). No final da Carta aos Romanos refere-se a eles com grande afecto: “Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as Igrejas dos gentios” (Rom. 16,3-4).
Alguns destes colaboradores na missão tornaram-se muito próximos de Paulo, como Timóteo, Tito, Silas, partilhando com ele toda a aventura da missão. Alguns deles eram enviados pelas comunidades para junto de Paulo, garantindo o contacto permanente com o Apóstolo e sendo, junto dele, a expressão do amor das comunidades. É o caso de Epafrodito, que é enviado para acompanhar Paulo (cf. Fil. 2,19-30).
Podemos aprender com Paulo o fundamento da verdadeira corresponsabilidade dos cristãos na missão da Igreja, aspecto de grande actualidade quando o Concílio tornou claro que a Igreja é o verdadeiro sujeito da missão e que todos os baptizados são corresponsáveis, segundo a sua graça própria ou o ministério que lhes foi entregue. A importância e especificidade do ministério ordenado não pode significar a clericalização da Igreja.


Propostas de meios pastorais para a vivência do Ano Paulino


8. Como acabámos de ver, o Ano Paulino oferece uma ocasião riquíssima para o nosso serviço às Igrejas. Cada uma encontrará os meios que considere os mais adaptados para o viver e celebrar. No entanto a Conferência Episcopal, órgão ao serviço da unidade de todas as Igrejas de Portugal, propõe a todas os seguintes instrumentos pastorais:
8.1. “Um ano a caminhar com São Paulo”. Trata-se de um itinerário catequético, tendo Paulo como guia, que além do conhecimento mais profundo do Apóstolo, nos fará percorrer, durante 52 semanas, as principais etapas do caminho cristão. Apresenta um tema para cada semana do ano e destina-se, além das pessoas individualmente, às famílias, aos grupos paroquiais, à pastoral juvenil, aos Movimentos.
8.2. A vivência da Liturgia. Os textos de São Paulo são dos que mais continuamente são lidos na Liturgia. Propomos, durante este ano, uma valorização destes textos, sobretudo nas homilias, não esquecendo que a Liturgia é a grande catequese da Igreja. A Comissão Nacional de Liturgia preparará elementos que ajudem os pastores das comunidades a realizar este objectivo.
8.3. Estudos sobre São Paulo. A Faculdade de Teologia, nos seus diversos Centros e Escolas filiadas, oferecerá ao Povo de Deus, sessões de estudos paulinos.
8.4. Valorização de outras ofertas, particularmente a apresentada pela família Paulista (Padres, Irmãs paulistas e Pias discípulas).
8.5. A festa da conversão de São Paulo, no próximo ano, será celebrada ao Domingo. Será organizada uma grande celebração nacional nesse dia, na Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, centrada num aspecto englobante da doutrina de Paulo.
9. Ao celebrar o Ano Paulino, queremos ter o Apóstolo Paulo como guia inspirador da nossa missão de pastores, de todos os evangelizadores, de quantos, neste mundo secularizado, querem viver connosco a aventura da Igreja.


Fátima, 6 de Maio de 2008

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Amizade pessoal com Cristo vivo - Intenção geral do Santo Padre para o mês de JUNHO


Que os cristãos cultivem uma amizade profunda e pessoal com Cristo, para assim poderem comunicar a força do seu amor às outras pessoas
Intenção geral do Santo Padre para o mês de JUNHO.

1. Um nome, uma ideia, uma religião...
Para grande número de pessoas, Cristo é um nome do passado, entre muitos outros que a História traz até nós: Platão, Alexandre, César... Um nome, simplesmente. Para outras, Cris-to é uma «ideia»: bondade, não-violência. Para outras, ainda, é uma «religião», ou seja, um modo de conceber Deus e a relação do homem com Ele – uma religião ao lado de tantas outras e como tantas outras, sinais, todas elas, do atraso cultural da humanidade, aparecendo como infestantes por todo o lado, sem nunca se conseguir exterminá-las de vez. Neste caso, olha-se o fenómeno com a sobranceria de mentes ilustradas e culturalmente superiores, imu-nes à doença e empenhadas em vencê-la por meio do progresso. Alguns cristãos – muitos ou poucos, não o sei dizer – assumem uma ou ambas as atitudes: Cristo como uma «ideia» e como uma «religião» (neste caso, sem o aspecto negativo). Seja um nome, uma ideia ou uma religião, este Cristo não compromete ninguém ou compromete muito pouco: alguns usos e costumes, um certo ambiente ao jeito do tão badalado «espírito do Natal», e sobretudo uma herança cultural e artística acarinhada por muitos, embora também cada vez mais desprezada por bastantes.
2. Uma pessoa... viva!
O Cristo «nome» ou «ideia» não incomoda e todos vivem pacificamente com ele. Para alguns, pode até ser objecto de curiosidade histórica. O Cristo «religião» já incomoda quem vê a religião como um sinal de atraso cultural da humanidade – e tal incómodo tanto pode tra-duzir-se num encolher de ombros enfadado como estar na origem de atitudes persecutórias ou, pelo menos, de desqualificação social. Há, porém, um outro Cristo, ou melhor, um Cristo que, sem deixar de ser um nome do passado, uma ideia interessante e uma religião espalhada pelos quatro cantos do mundo, é muito mais: é uma pessoa e está vivo, aqui e agora! Este é o Cristo dos cristãos – ou deve ser. Não vivemos de um nome ou de uma ideia, não somos mais uma religião, entre outras. Somos, desde há dois milénios, os felizes companheiros de Jesus de Nazaré, o Cristo morto e ressuscitado, Deus feito um de nós para nos salvar do poder do pecado e da morte e para oferecer esta salvação a toda a humanidade. Se isto é uma pretensão que o mundo não entende, também não entendeu o nosso Mestre, que passou fazendo o bem, escutado com gosto por muitos, seguido por alguns, mas atraiçoado, rejeitado, maltratado, torturado e morto. Enquanto não nos percebermos assim, felizes companheiros de uma Pessoa viva e presente no aqui e agora da nossa vida, uma Pessoa que é o próprio Deus fazendo-Se nosso companheiro de jornada, ainda não somos cristãos – estamos apenas a caminho de sê-lo. E precisamos de nos converter continuamente, para que a nossa relação com Cristo seja cada vez mais pessoal, marcada pela amizade, pela confiança e pela dedicação sem limites. Deste modo, seremos capazes de levar até aos nossos irmãos, crentes ou não, o amor de Jesus por cada ser humano, amor de um Deus que é Pai e ama infinitamente, sofredoramente cada um dos seus filhos.
3. Consequências
Ao contrário dos outros nomes e das grandes personagens do passado longínquo, Jesus, o Cristo, não suscita só indiferença ou curiosidade histórica. Há aqueles que O amam e aque-les que O odeiam. Odeiam o nome, pelo seu significado na história da humanidade, e odeiam-No a Ele por continuar vivo na vida de milhões de pessoas. Este ódio não se distingue do ódio aos seus discípulos – porque o problema é precisamente esse: em cada tempo e nos mais diversos lugares, há quem O afirme vivo, presente e actuante no meio do mundo, e assuma com Ele uma relação verdadeiramente pessoal. E tal não acontece apenas com indivíduos iso-lados, mas com gente constituída em povo de Deus, Igreja convocada para anunciar a Palavra: «o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e acreditai no Evangelho» de Jesus, o Filho de Deus (cf. Marcos 1, 51; 1, 1). Este anúncio, incómodo porque desinstala o ouvinte, provoca resistências, mas é também motivo de alegria para muitos, maravilhados com a autoridade, coerência e força de humanização do Evangelho. E, sobretudo, porque não é o anúncio de uma ideologia nem de uma «religião» entre outras – é o anúncio do Deus vivo, que ama infi-nitamente cada ser humano, ao ponto de Se fazer homem e morrer e ressuscitar por cada um de nós. Anunciar este Deus Amor é a única resposta digna da Igreja e dos cristãos ao ódio daqueles que pretendem silenciar o nome de Jesus.
Elias Couto