segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Determinado em propor mudanças


Em Vila Real, D. Amândio Tomás quer rever métodos pastorais, apostar na formação, propor aos padres menos missas de afogadilho e aos leigos menos sacramentos recebidos com leviandade.



D. Amândio Tomás iniciou o seu ministério episcopal em Vila Real e quer propor mais catequese e travar uma religiosidade assente apenas na prática sacramental, sobretudo quando ela tem motivações sociais. Para travar é também a “hemorragia” dos transmontanos para as cidades do litoral, o que pressupõe a criação de condições que permitam vida economicamente estável no interior.
Na celebração de acolhimento do Bispo Coadjutor da Diocese de Vila Real, conheceram-se as determinações de quem voltou à sua terra. “Voltei para anunciar Cristo”, referiu D. Amândio Tomás às centenas de transmontanos que acolheram com orgulho um Bispo transmontano, saudando-o ao longo do cortejo entre o Governo Civil da cidade e a Sé da Diocese que antecedeu a Eucaristia de início de ministério, neste Domingo. Às dezenas de sacerdotes e leigos que ouviram expôs, na homilia da missa, um conjunto de ideias para a dinamização de todos os católicos na região.
Ponto de honra para o ministério do Bispo Coadjutor é tudo fazer de acordo com aquele que é o Bispo Diocesano, D. Joaquim Gonçalves. “Tudo farei com o meu bispo e nada contra ele”. Parceiro no ministério episcopal em Vila Real, D. Amândio quer contar com a proximidade e orientação de D. Joaquim, agora em recuperação do transplante cardíaco a que foi submetido. “Ajudai-me a ajudar o nosso bispo. Nós precisamos muito dele, do seu conselho, da sua experiência”, referiu.
Nesta Diocese, D. Amândio está determinado em revestir a prática das comunidades cristãs de convicções profundas. Para isso, disse ser preciso apostar na catequese, revendo métodos de coordenação e animação pastoral na Diocese. A todos, sacerdotes e leigos, D. Amândio pede que “não se deixem intimidar pelas ameaças do laicismo e do relativismo”, reagindo a uma cultura que quer calar Cristo e os valores irrenunciáveis do cristianismo, como o valor da vida, da dignidade humana e do bem comum. “Sonho com cristãos comprometidos a animar a vida pública e a transformar por dentro a sociedade como locomotivas que arrastam, que contagiam, que galvanizam, opondo-se ao marasmo, à cobardia ao medo e à apostasia da fé”, referiu.
Menos missas de “afogadilho”
Para dinamizar a Igreja na Diocese, D. Amândio Tomás sugere “trabalho em rede”, a envolver padres, religiosos, movimentos. “Não sejais preguiçosos na vossa dedicação”, pediu o Bispo Coadjutor da Diocese, apostado em promover trabalhos de conjunto e não no isolamento de cada “quintal”.
O trabalho pastoral dos padres da Diocese mereceu conselhos muito claros do Bispo que chegava a Vila Real: “mais catequese”, “menos sacramentos recebidos sem convicções” e “menos missas de afogadilho”.
“Devemos apostar em menos missas de afogadilho, umas atrás das outras, para cumprir um programa, e mais catequese, sem contudo desprezar a eucaristia que é o coração da Igreja, que é fonte e ápice da sua actividade”.
D. Amândio Tomás referia-se à necessidade de preparação dos sacramentos que merecem maior visibilidade social, nomeadamente o baptismo e o crisma e o matrimónio, e à grande sobrecarga que afecta os padres e outros ministros ordenados diante das solicitações dos muitos “serviços religiosos”. Para D. Amândio, é necessário “mudar de estratégia pastoral. Não podemos multiplicar missas e sacramentos”. Na homilia da missa, repetiu a necessidade de “mais catequese e de mais formação de pessoas e de consciências e de menos sacramentos recebidos com leviandade, a cumprir programas, sem convicções, recebidos por motivos fúteis”.
Contra o despovoamento
Às preocupações eclesiais, D. Amândio acrescenta as sociais e económicas, nomeadamente as que motivam o constante despovoamento daquela região transmontana, que “é de todo o interior de Portugal”, como constatou em declarações à comunicação social.
Diante da “hemorragia de gente que vai para o litoral”, o Bispo Coadjutor de Vila Real afirma a necessidade extrema de “fixar as populações, de criar as possibilidade para as pessoas não emigrarem”. Convicto de que as pessoas não vão para o litoral por “mero prazer”, D. Amândio Tomás afirma a necessidade de combater as razões económicas que levam os transmontanos a emigrarem, criando condições económicas que façam com que “as pessoas tenham possibilidades de viver aqui condignamente.
O Bispo de Vila Real
D. Joaquim Gonçalves é Bispo em Vila Real há 20 anos. Primeiro como Coadjutor e, desde 1991, como Bispo Diocesano.
Na noite do dia 12 para o dia 13 de Janeiro foi submetido a um transplante cardíaco, no Hospital Universitário de Coimbra. O Bispo da Diocese transmontana fora internado, no dia 16 de Outubro de 2007, no Hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, onde se sentiu mal durante uma consulta. Posteriormente foi transferido para Coimbra.
A sua saúde fez com que pedisse ao Papa Bento XVI um Bispo para o ajudar no trabalho de animação pastoral da Diocese, tendo sido rápida a nomeação de D. Amândio Tomás para Bispo Coadjutor.
Na mensagem que dirigiu à Diocese para este dia, D. Joaquim Gonçalves pediu uma recepção “em festa” àquele que será o Bispo de Vila Real “daqui a algum tempo”. É a convicção do Bispo que garantiu, na mensagem lida no início da celebração de início de ministério do seu Coadjutor, estar a recuperar bem do transplante cardíaco a que foi submetido.
Bispo Coadjutor
Na maioria dos casos, é uma necessidade especial – muitas vezes problemas de saúde - que exige que se dê ao Bispo diocesano um Bispo Coadjutor para o ajudar. O Bispo coadjutor é nomeado por iniciativa da Santa Sé e, ao contrário dos Bispos auxiliares, goza do direito de suceder ao Bispo diocesano quando este cessa as suas funções.
“Vagando a sé episcopal, o Bispo coadjutor torna-se imediatamente Bispo da diocese para a qual fora constituído”, refere o cânone 409 do Código de Direito Canónico (CDC).
O decreto Christus Dominus, do Concílio Vaticano II, sobre a missão pastoral dos Bispos na Igreja refere que “o Bispo Coadjutor, isto é, aquele que é nomeado com direito de sucessão, sempre há-de ser constituído Vigário Geral pelo Bispo diocesano”. Em casos particulares, a autoridade competente poderá conceder-lhe faculdades mais amplas.
FOTO: Mensageiro Notícias
Paulo Rocha 11/02/2008

Um Bispo para a Comunhão
Homilia de D. Jorge Ortiga na entrada em Vila Real de D. Amândio Tomás
Vive a Diocese de Vila Real, em ambiente festivo, não tanto a Tomada de Posse dum Bispo Coadjutor, já realizada pelo Colégio de Consultores, mas de apresentação Solene e de início de missão Episcopal de D. Amândio José Tomás. A apresentação torna-se desnecessária sendo um cristão nascido nesta comunidade e mais tarde acolhido no presbitério que a serve. Trata-se dum regresso com um programa a exercer dum modo eclesial muito característico. Quanto ao Programa teremos a graça de o ouvir na homilia e, particularmente, de o acolher com renovado entusiasmo e ardor empenhativo no quotidiano da vida das comunidades. Sinto-me feliz por introduzir esta celebração testemunhando-lhe a minha comunhão efectiva e afectiva, como Metropolita e Presidente da C.E.P.. Aproveito para, à guisa de introdução sublinhar um pensamento sobre o ministério episcopal.
Sirvo-me de palavras da Pastores Gregis sobre o Bispo, servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a Esperança do mundo.
“A Igreja é comunhão orgânica que se realiza através da coordenação dos vários carismas, ministérios e serviços em ordem à consecução do fim comum que é a salvação. O Bispo é responsável pela realização desta unidade na diversidade, procurando favorecer de tal modo a sinergia entre os diversos agentes para que seja possível percorrerem juntos o caminho comum de fé e de missão” (P.G. 44).
Sim, percorremos juntos um caminho comum de fé e de missão. Daí que se imponha trazer para esta celebração a pessoa do Senhor D. Joaquim Gonçalves evocando-o como Bispo desta Diocese mas, sobretudo, como Pastor que sabe dar a vida pelas suas ovelhas como tem demonstrado neste momento particularmente delicado onde a força e confiança na ciência dos homens não dispensa um testemunho eloquente de entrega nas mãos de Deus. Que o Senhor lhe conceda o dom duma saúde capaz de continuar a servir este povo no anúncio e serviço do Evangelho. Dando graças a Deus por quanto a medicina nele realizou, intensifiquemos a nossa comunhão de oração para que regresse rapidamente para o meio do Povo com quem tão bem soube identificar-se.
O Bispo Coadjutor D. Amândio irá percorrer com ele o mesmo caminho de fé e de missão. Na fé dum reconhecimento de Deus que, em Jesus Cristo, se fez pobre para nos enriquecer pela sua pobreza (Conf. 2 Cor. 8, 9), entregando-se totalmente por nós. Com o D. Amândio, renovando a nossa fé neste Deus amor estamos a assumir a comum missão, aprendendo com Cristo a fazer da nossa vida um dom total”.
Estas palavras colocam-nos em comunhão com o Papa, no significado do seu ministério petrino e acolhendo o projecto traçado por ele para a Quaresma, que nos introduz no essencial cristão: acolher o dom do Amor de Deus para o tornar visível num mundo ávido de algo que ainda não encontrou. Este amor torna possível a “unidade na diversidade” que, acompanhando o D. Amâmdio no início do serviço episcopal nesta diocese, me atrevo a referir.
Unidade do Bispo Diocesano com o seu Coadjutor, destes com o restante colégio episcopal e quero recordar o D. António Marto que amanhã completa 7 anos de ordenação episcopal, e, particularmente, com um povo sacerdotal onde o presbitério emerge como família e os cristãos leigos crescem no discernir as razões da sua esperança, através duma formação persistente, e sabem articular os seus dons e talentos num serviço comunitário aberto e comprometido em dar respostas aos reais problemas dum povo por quem Cristo se entregou.
Sabemos que “Ubi episcopus, ibi ecclesia” (onde está o Bispo, aí está a Igreja). Isto não significa autoritarismo ou centralismo eclesial. Vale como interpelação permanente para um trabalhar com o Bispo, na unidade expressa nas cordas duma citara, onde cada um é imprescindível mas consciente de que só se torna harmonia interpelativa se se transcende nesta integração coral onde de muitos se forma um só corpo.
Este “regresso” de D. Amândio à sua Diocese para exercer um ministério de comunhão com o Senhor D. Joaquim é mais um dom de Deus a esta comunidade mas, simultaneamente, é, peço desculpa por o sublinhar, um momento de compromisso de todos para que a mensagem de Cristo encontre adesão pessoal em todos os cristãos desta Diocese. Entregando-lhe o báculo, sei que a diocese poderá contar com um “Servo por amor” e acredito que todos se irão empenhar para manifestar a Beleza de Deus ao mundo.
Vamos rezar para que isso aconteça e, como Igreja, testemunhemos, em comunhão orgânica o tipo de cristianismo em que acreditamos e o modelo de Igreja que queremos edificar.
10-02-2008
† Jorge Ortiga