quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ordenação de Diáconos Permanentes no Dia da Mãe: a Igreja diocesana, mais completa.

Decorreu na tarde do 1º Domingo de Maio, na Sé catedral, a cerimónia de ordenação de 2 novos Diáconos Permanentes: Dr. António de Matos, oficial de finanças e Dr. Paulo Santos, professor de Educação Moral e Religiosa, ambos com raízes familiares no concelho de Boticas.
Apesar da grande importância, este acontecimento passou sem a devida referência em muitas comunidades paroquiais.

É neste contexto que publicamos o texto da Homilia que na oportunidade proferiu Sua Ex.ª Rev.ª D. Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real:


Ocorrem neste dia várias celebrações: a Ascensão do Senhor ao Céu, a Ordenação de Diáconos, o Dia da Mãe e o Dia das Comunicações Sociais. São festas diferentes mas que se interligam.

1 - Em primeiro lugar, a Ascensão de Jesus ao Céu. A Ascensão é o outro rosto da Páscoa. A Páscoa é a vitória de Jesus sobre a morte e a sua entrada na glória do Pai, duas faces do mesmo facto. No Domingo de Páscoa lembramos sobretudo o regresso de Jesus à vida, num estado diferente, mais elevada, a vida de ressuscitado; na Ascensão, sublinhamos o fim do período de quarenta dias durante os quais Jesus, sem deixar a glória do Pai onde se encontrava desde a ressurreição, apareceu aos Apóstolos, falou com eles, deixou-se tocar e deu--lhes muitas provas de que estava vivo, e encerrou esse período de aparições, «desapareceu entre as nuvens», diz o livro dos Actos. Jesus deixa de ser visível pelos sentidos. Convém recordar que, ao entrar na glória, Jesus regressa mais «rico» do que quando veio ao mundo. Ao vir ao mundo, o Verbo de Deus não tinha a natureza humana; pela Incarnação, fez-se homem verdadeiro e, nessa condição, entra na glória. Por esse motivo, a oração da Missa de hoje dizia que a Ascensão «é a nossa esperança», isto é, em Jesus ressuscitado, a natureza humana é chamada à glória celeste.Por outro lado, Jesus não abandona o mundo, como se tudo voltasse a ficar como estava antes de Ele vir ao mundo. Jesus permanece «connosco até ao fim dos tempos» ainda que de modo diferente mas real, pelo Espírito Santo, pela sua Igreja, pela Palavra, pelos Sacramentos. A Igreja continua a incarnação de Jesus, é o seu corpo, e Jesus é a cabeça desse Corpo que é a Igreja. Aqui se insere o segundo tema deste dia – a Ordenação dos Diáconos.
2 - O Diaconado é um grau do sacramento da Ordem, o terceiro grau, sendo o primeiro o Bispo e o segundo o Presbiterado. É o único sacramento que tem graus: o Episcopado e o Presbiterado conferem Sacerdócio, o Diaconado confere um serviço específico para auxiliar o bispo e o presbítero no pastoreio do Povo de Deus. O Diácono não é um padre, é um ministério diferente. O Diácono trabalha sempre em comunhão com o Bispo a quem promete obediência e com os Presbíteros, e faz parte da hierarquia da Igreja. É um clérigo, e rigorosamente devia tratar-se pelo seu nome próprio, «reverendo Diácono». Ao Diácono é confiado o ministério da pregação, mesmo a pregação solene a crentes e descrentes, a celebração solene do Baptismo, a guarda e distribuição da Eucaristia, a presidência da celebração do Matrimónio e bênção dos noivos, a presidência do rito de Exéquias. A meu lado tenho dois diáconos, um deles candidato a presbítero, e o outro que permanecerá assim, como homem casado. Os que hoje vão ser ordenados são homens casados e pais de filhos, e manterão essa condição. Por essa razão, tanto a esposa como os filhos foram consultados sobre o consentimento a dar para que o marido e pai assumisse este encargo.
3 - A terceira face desta celebração é para evocar o papel da mãe e o valor da maternidade. Quando se criou a festa, ela destinava-se sobretudo a despertar nos respectivos maridos e nos filhos a gratidão pela mulher. Mantendo essa dimensão, sinto que, hoje, o dia da Mãe deve servir para despertar na sociedade e nas mulheres casadas a alegria de serem mães e em todas as mulheres o respeito pelos filhos. Como todos sabemos, há em Portugal poucos nascimentos, doentiamente poucos. Invocam-se dificuldades na criação e educação dos filhos. Convém recordar que a criação de filhos foi, é e será sempre difícil, nunca existindo condições ideais. Os casais têm de possuir um pouco de aventura, pois ninguém tem a chave do futuro. A sociedade vem a estabelecer condições fantasistas para haver filhos, tais como garantia de conforto total e de não envelhecimento da mulher, garantia de um curso superior e de emprego para cada filho, a festa da boda numa quinta e uma conta bancária, um apartamento e um carro quando casarem. Ao colocar tão alto a fasquia, nunca será possível ter filhos. Meu Deus, quantas mulheres foram mães sem ajuda hospitalar, sem ajuda médica, sem subsídios, e, além da geração dos filhos, ainda ajudaram o marido no trabalho do campo. Quantas mulheres solteiras, enganadas, levaram sozinhas até ao fim a sua maternidade e suportaram heroicamente uma tarefa que devia ser suportada por dois! Respeitando as legítimas exigências do nosso tempo, permiti que vos diga que em muitos casos o que falta é temor de Deus, espírito de sacrifício e correcta informação. Sem se aperceberem disso, muitos casais são prisioneiros da mentalidade mundana difundida por vários «media».
Meus irmãos: Queria agradecer aos dois Diáconos a sua generosidade de, mantendo o seu matrimónio, assumirem este serviço à Igreja de Vila Real; quero agradecer às suas esposas, a Florinda e a Maria Agostinha e aos filhos o seu consentimento porque, sobretudo aos Domingos, ficarão privados de algumas horas de convívio com o seu marido e pai; quero felicitar as paróquias de origem dos ordenandos no concelho de Boticas porque as sementes cristãs ali deixadas há décadas por famílias piedosas frutificaram nestes novos tempos de modo oportuno. A nossa Diocese fica assim mais completa. A Igreja é isto que vedes aqui: o Povo de Deus de que esta assembleia é imagem e de que todos somos membros. Este Povo é governado e servido por este conjunto de homens a que chamamos hierarquia, um bispo, os presbíteros e diáconos. Durante anos só se viam bispos e presbíteros. Agora recuperou-se o diaconado como algo estável. Os leigos, que são a maioria dos cristãos, têm o seu ministério próprio na criação dos filhos e nas tarefas do mundo exercidas com espírito cristão, e prestam alguns serviços no interior da Igreja como leitores, cantores, acólitos, ministros extraordinários da comunhão, catequistas, conselheiros dos párocos na administração das paróquias. A Igreja é, portanto, um povo de ministérios, não há ninguém sem vocação. Falta-nos uma comunidade de vida religiosa contemplativa, ainda que tenhamos várias mulheres de idades diferentes em mosteiros de Braga, de Coimbra e de Lisboa.
Termino com uma referência pessoal à carta de S. Paulo: pede a Deus que «ilumine os olhos do coração de cada um». Este coração não é o dos transplantes, pois esse não vê nem ouve. O coração é aqui o interior do homem, a inteligência, o afecto, a sensibilidade, as profundidades da pessoa. É isso que vamos pedir para todos e para cada um de nós.
Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real