terça-feira, 22 de abril de 2008

D. Joaquim Gonçalves, em entrevista ao NVReal

O jornal "Notícias de Vila Real" publicou na sua edição de 22 de Abril de 2008 uma entrevista com D. Joaquim Gonçalves, por ocasião do seu regresso à Diocese e após a convalescença da delicada operação cirúrgica a que foi submetido a 12 de Janeiro de 2008 para um transplante cardíaco.
Esta entrevista parece-nos tanto mais relevante quanto é intenção do mesmo quinzenário entrevistar D. Amândio Tomás, Bispo Coadjutor, na primeira oportunidade.


D. Joaquim Gonçalves: Estado português é guloso e centralizador.

Ausente da sua diocese desde há cerca de seis meses, por motivo de doença, o bispo diocesano, Sr. D. Joaquim Gonçalves, aceitou partilhar com os leitores do Notícias de Vila Real as suas experiências recentes, ao mesmo tempo que manifestou as suas preocupações e intenções para os próximos anos.

Notícias de Vila Real (NVR): O transplante cardíaco a que foi sujeito trouxe o seu nome para a praça pública. Como foi a evolução da sua doença nos últimos meses?

Dom Joaquim Gonçalves (DJG): Comecei a sofrer do coração há 20 anos, tinha na altura 52 anos de idade. Recordo-me de procurar o Dr. José Campos, médico do Seminário, para me passar a receita de um medicamento que andava a tomar por causa da asma. Fixou-me e disse que não tinha sinais asmáticos e a falta de ar poderia ser sinal de algo mais grave e recomendou-me um cardiologista. Um ano depois dessa conversa, em 1988, fiz a primeira cirurgia às coronárias no Porto, no hospital de São João e, passados 12 anos, foi necessário repeti-la, desta vez em Gaia e pela mesma equipa que para ali se havia transferido. Desde então, um médico desse hospital acompanhou-me até ao verão passado, e há cerca de um ano, preveniu-me que o coração acusava uma degradação grave do miocárdio e das válvulas. Em Outubro passado, tentou-se um cateterismo para ver como estavam as válvulas. Não aguentei, perdi os sentidos e estive assim cinco dias. Recuperados os sentidos, o referido médico, em nome da equipa hospitalar, informou-me lue o meu caso só se resolveria com um transplante. Vi-me numa situação que nunca me tinha passado pela cabeça. Contactou-se o Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra tendo o professor Manuel Antunes informado que no momento não tinha lista de espera e que poderia ir. Fui transferido no último dia de Outubro para fazer os exames preparatórios, que ficaram prontos no dia 12 de Novembro. Nesse dia decorreu a entrevista preparatória com o cirurgião, e aguardei na Póvoa durante uma semana o aparecimento de um coração compatível. No fim de Novembro fui viver para o Paço Episcopal de Coimbra a fim de estar mais perto do Centro de Cirurgia.
No dia 12 de Janeiro, pelas vinte e duas horas, o próprio professor telefonou-me para ir para o Centro porque tinha aparecido um coração compatível e queria falar comigo antes do transplante. Foi assim que vivi uma experiência única: saí de casa para um transplante como se fosse dar um passeio ou fazer uma simples consulta ao dentista! Quando cheguei, falei um bocado com médico e pouco antes da meia-noite entrei para o bloco operatório. O professor tinha-me informado que recuperaria plenamente os sentidos cerca de 12 horas após a cirurgia, as às 5.30h já estava no quarto e acordei. Recordo-me de perguntar à enfermeira quando era a operação. Respondeu-me que já tinha o novo coração a trabalhar mas que ia voltar a adormecer para descansar e, mais tarde, acordaria plenamente. Ainda me corda de, horas depois, tomar uma canja. Pelas 6 horas da tarde acordei sem dores nenhumas ainda que algo cansado.

NVR: Enquanto crente e bispo como viveu esta experiência?

DJG: Isso é uma zona muito delicada... [ler mais]